26 abril 2012

Da Alquimia à Homeopatia

Visão herética: a alquimia resgatada

A visão pagã do mundo não é de transcendência, e sim de imanência. Ou seja, a busca do homem pleno não é "sair deste mundo" para "outro melhor", e sim tornar este mundo a própria personificação do Paraíso Arquetípico, através de uma interação com a natureza, e não por intermédio de atitudes dominadoras (puro Ocidente) ou transcendentais demais (puro Oriente). O "criador" não é visto como uma entidade separada de sua criatura, mas sim como uma unidade integrada onde o fruto e a árvore são uma coisa só. A natureza e o próprio ser humano são simplesmente "a parte visível de Deus".

Este ponto de vista tentou expressar-se ao longo dos séculos através da Alquimia. Jung ousou dizer que os alquimistas eram os psicólogos do seu tempo, por tentarem compreender a natureza oculta do homem, assim como suas relações com a natureza circundante. Na visão do alquimista, "o homem é céu, o homem é terra, o homem é a representação de todo o Universo" (Paracelso).

Essa visão é também válida "de trás para frente", se considerarmos que todos os arquétipos se materializam, "todos os deuses estão em tudo", portanto podemos encontrar sentimentos humanos em pedras, processos mentais em plantas, dinâmica psíquica naquilo que em geral consideramos "inanimado". A essência escondida na forma, esperando para ser compreendida e liberada.

Esta perspectiva aponta para uma psicologia da matéria, que era a essência do trabalho do alquimista. Os alquimistas modernos são em parte os homeopatas, poderíamos dizer, em sua obra de compreender o daimon ou o "gênio" aprisionado na lâmpada mágica da matéria, o espírito que pode ser libertado através das dinamizações homeopáticas. A idéia da homeopatia - tratar o indivíduo - vai além da psicologia, no sentido de que o terapeuta homeopata busca compreender não apenas a psique humana, mas também o indivíduo enquanto corpo, assim como a psique da matéria, e recriar a esquecida ponte entre homem e natureza.

Encarada como "lenta", a filosofia homeopática nos recorda que o auto-aperfeiçoamento é o trabalho de toda uma vida, e que o objetivo essencial não é curar a dor de cabeça, a úlcera, o resfriado. A grande tarefa é compreender, resgatar, restaurar a verdadeira natureza individual. Seguindo esse processo, ocorre o inevitável: as "doenças" também se vão... Não é um processo lento, e sim de tomada de consciência, onde o paciente deve assumir responsabilidade sobre seus conteúdos e processos. Desta forma, "a cura" deixa de ser exercitada como uma responsabilidade única do médico, e passa a ser compreendida como prerrogativa do paciente.

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